sexta-feira, 18 de junho de 2010

A José Saramago, no dia da sua partida para a Intemporalidade,

o meu agradecimento público.
Morreu sem que lhe tenha dito que foi graças ao "Ano da Morte de Ricardo Reis" que consegui explicar este heterónimo aos alunos como se o tivesse "conhecido" desde sempre...

Eternamente agradecida, por isso e pela lucidez com que olhou o mundo e os homens.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

No último dia de aulas, aos meus alunos.

A Literatura levou-nos a muitos campos…
Todos interessantes e importantes. Se, nalgum momento, sobre algum assunto, a vossa Curiosidade despertou, metade do meu dever ficou cumprido, pois é ela que vos levará ao Conhecimento...
Aos alunos fantásticos que me acompanharam:
pela presença, correcção, dedicação, empenho, pelo prazer que foi trabalhar convosco – a todos, um muito grande abraço.

“A curiosidade é mais importante do que o conhecimento” A. Einstein
“A cultura, sob todas as formas de arte, de amor e de pensamento, através dos séculos, capacitou o homem a ser menos escravizado” André Malraux
“Pouco conhecimento faz com que as pessoas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, que se sintam humildes. É assim que as espigas sem grãos erguem desdenhosamente a cabeça para o Céu, enquanto as cheias as baixam para a terra, sua mãe.”L. Da Vinci


“A arte é um resumo da natureza feito pela imaginação” Eça de Queiroz
“O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive”
Padre António Vieira

sábado, 29 de maio de 2010

A Pintura Impressionista

Monet, Impression, Le Soleil Levant
Van Gogh, The Drinkers
Degas, L'Absinthe
Manet, Le déjeuner sur l'herbe
Renoir, Les grandes baigneuses
Turner, Slave Ship
Sisley, Lane near a small Town
Rodin, Escultura, Danaïde
Rodin, Escultura, O Beijo








O Impressionismo na Pintura

http://www.youtube.com/watch?v=BJKwE-JNrBw&feature=PlayList&p=7AC51A93F58D316C&playnext_from=PL&playnext=1&index=4

Rodin - escultura

http://www.musee-rodin.fr/

http://www.youtube.com/watch?v=FCYjSYfH5zI

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Links para estudo d' "Os Maias"

http://www.citi.pt/cultura/literatura/romance/eca_queiroz/maias.html

http://lithis.net/36

Espectáculo de teatro "Os Maias"

Busto de Eça de Queiroz por Rafael Bordalo Pinheiro, 1901

Ontem, com todos os constrangimentos de uma greve de transportes públicos, fomos a Sintra assistir a uma encenação da obra "Os Maias".
Aguardo os comentários dos que lá conseguiram chegar...
Espero que o calor que estava não vos tenha "amolecido" o espírito crítico...

domingo, 28 de março de 2010

No final do 2º Período

Júlio Resende, Pássaro


Estou, mais uma vez, muito orgulhosa dos meus alunos.
Convosco aprendo, rio-me, emociono-me e tenho prazer em ser professora.
Estou consciente do trabalho que têm e por isso vos agradeço o esforço suplementar que fizeram para, com tanto esmero, nos brindarem com os textos e imagens que pesquisaram e prepararam para a avaliação das exposições orais.
Votos de boas e merecidas férias.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

O REALISMO

1. As transformações na Europa do século XIX


Por meados do século XIX, as profundas transformações operadas pelo motor a vapor de água na produção industrial, nos transportes, na economia e nas relações sociais tinham feito surgir problemas e maneiras colectivas de pensar e sentir, já muito diferentes de tudo aquilo que estava na base do Iluminismo e da Revolução Francesa. No terreno científico, as concepções mecanicistas foram ultrapassadas: a termodinâmica mostrava a unidade e conversibilidade existente entre todas as formas de energia; a química orgânica ligara os fenómenos físico-químicos aos fisiológicos; as concepções transformistas generalizavam-se, verificando-se que tudo no mundo tinha uma história, desde os corpos celestes até à crosta terrestre, às espécies biológicas, às estruturas sociais, aos idiomas e aos princípios jurídicos. Esta concepção de um mundo todo explicável cientificamente e em constante transformação reflectiu-se no aparecimento da filosofia da história e afectou as crenças religiosas muito mais profundamente do que o mecanicismo.
A nova mentalidade científica e filosófica não podia deixar de se reflectir no modo de se encararem os problemas humanos que então se agravavam, com a industrialização e com a redução de uma percentagem crescente de pessoas à condição de assalariadas. Mas, além do surto de novas doutrinas históricas ou sociológicas, tais problemas e tal mentalidade produzem também os seus efeitos na arte literária. Como vimos, no Romantismo podem distinguir-se duas fases: a primeira, predominantemente passadista, conservadora, embora adaptada a um novo tipo de público; a segunda, desde cerca de 1830, em que os escritores entram a preocupar-se com os problemas humanitários mais clamorosos: a escravatura, que os mecanismos tornavam dispensável e que tolhia a mecanização; os horários excessivos do trabalho operário; o sufrágio universal; o analfabetismo; a delinquência causada pela miséria; a infância abandonada; etc. As consequências morais e sociais da caça ao lucro foram postas em relevo pelo grande romancista francês Balzac, na sua série de obras A Comédia Humana; a exploração da infância e dos miseráveis, as brutalidades do regime prisional então vigente são denunciadas por V. Hugo e C. Dickens; outros escritores muito populares ridicularizam o “burguês” e exaltam o humanitarismo (os romancistas franceses Eugène Sue, Georges Sand, Monnier; os ingleses Kingsley, Carlyle; o poeta Béranger).
Esta mentalidade científica, esta tendência para retratar os males sociais na obra literária, estreitamente relacionadas com as revoluções europeias de 1848 e o aparecimento das primeiras ideologias socialistas, conduziram ao chamado Realismo, escola de arte que procura esmerar-se na produção típica e desapaixonada da realidade, especialmente a realidade social humana, e que reage contra o devaneio individualista sentimental de quase todos os primeiros românticos. Os mais típicos realistas foram Courbet na pintura e Flaubert no romance (Madame Bovary).
Óscar Lopes e Júlio Martins, Manual Elementar de Literatura Portuguesa

O Realismo surge em toda a Europa na sequência da Revolução Industrial. Esta revolução favoreceu o desenvolvimento económico e político da burguesia e a aparição de uma nova classe social: o proletariado.
As transformações operadas na Europa, na segunda metade do século XIX, nos aspectos político, social, científico e religioso, vão provocar nos artistas uma nova atitude perante a literatura e as artes plásticas: o Realismo. Este movimento artístico inspirar-se-á na vida real, nos factos do quotidiano, no ambiente da vida burguesa, na miséria dos bairros populares, etc.
A Espanha e, posteriormente, a França proclamam a República. Victor Manuel destrói os Estados Pontifícios. Lamarck e Darwin defendem o evolucionismo. Inventa-se o motor de explosão e o eléctrico. Os progressos tecnológicos aplicados à indústria desencadeiam uma crise de desemprego. Surge a chamada Questão Social, caracterizada por lutas reivindicativas e contra a miséria da nova classe nascida da industrialização – o proletariado. Marx e Engels apontam o socialismo como solução para as profundas desigualdades económicas e construção de uma sociedade em que impere a justiça social. Mendel descobre as leis da hereditariedade. À medida que todos os ramos da ciência punham de lado velhas teses, a literatura ia-se também desprendendo de:
• sentimentalismos doentios;
• idealismos utópicos divorciados da realidade;
• expressões hipócritas da paixão amorosa, etc.

A nova mentalidade realista, consequência das circunstâncias sociais da época: a fantasia e o subjectivismo românticos, assim como a expressão livre dos sentimentos mais íntimos, são substituídos por tudo aquilo que rodeia o homem.
Procurava-se a realidade autêntica e não a deformada pelo mundo romântico. Ao contrário do Romantismo, os artistas já não pensam em fugir do mundo real; pelo contrário, a tendência é ater-se unicamente aos factos. Já não valorizam o sentimento ou a maneira pessoal de ver as coisas, mas antes se voltam para uma análise das realidades concretas do homem e sua vida quotidiana. É preciso conhecer e descrever objectivamente a realidade, para depois a modificar.
Os problemas sociais originados na Revolução Industrial provocaram uma profunda mudança de mentalidade que se reflectiu na Literatura.
 Enquanto o Romantismo foi um movimento idealista, o Realismo interessou-se pela realidade imediata. Os realistas empreenderam a análise do meio envolvente partindo sempre da observação e da experimentação. O progresso técnico e científico foi um factor fundamental no desenvolvimento desta nova atitude.
 Enquanto o Romantismo proclamava a liberdade do indivíduo, o Realismo centrava a sua atenção na realidade social.

2. O contexto cultural do Realismo

 O positivismo (de Augusto Comte). Propõe a rigorosa observação e a experimentação como únicos métodos para chegar ao conhecimento da realidade.
Para A. Comte, a ciência só deve operar com dados que possam ser comprovados experimentalmente. A função do cientista é classificar tais dados e observar como se relacionam entre si, com o fim de chegar à formulação de leis.
 O evolucionismo de Darwin. Este cientista defende que todas as espécies vivas são o resultado de um processo evolutivo em que a selecção natural desempenhou um papel determinante. Só as espécies que evoluíram para adaptar-se ao seu meio sobreviveram.
 O marxismo, criado por Karl Marx, que despojou a filosofia de todo o sentido transcendente e reivindicou a melhoria das condições materiais de vida do ser humano. Marx considerava que as formas de trabalho, isto é, as relações de produção, são o verdadeiro motor da História. O marxismo propôs a transformação radical da sociedade capitalista mediante a organização do proletariado, a conquista revolucionária do Estado pelos trabalhadores e o estabelecimento da sociedade sem classes. Estas ideias influíram decisivamente no desenvolvimento do movimento operário na Europa.

3. Do Romantismo ao Realismo

O Romantismo impõe-se oficialmente em Portugal com a publicação do poema Camões de A. Garrett, em 1821. Surgindo como oposição ao neoclassicismo, afirma a necessidade de terminar com todas as limitações à liberdade individual, preconizando a abolição das tiranias políticas e artísticas. Este movimento literário apontava para uma liberdade de sentir, de pensar e de escrever que punha em causa o velho equilíbrio clássico. A arte não necessitava de génio, estudo, imitação.
No entanto, como tudo na vida, se o Romantismo teve a sua época áurea, a partir de determinado momento entra numa fase que poderemos designar de “degenerescência”. O próprio A. Garrett já se refere a isso quando desmistifica nas Viagens na Minha Terra os “clichés” batidos e convencionais, a imitação saloia, a falta de maturidade e de gosto que enforma a literatura, sobretudo a poesia. Essa degenerescência teve expressão no Ultra-Romantismo que foi o reflexo da paz podre da “Regeneração”. O mau gosto, o convencionalismo, o vocabulário estereotipado, o isolamento face à realidade não só nacional, como estrangeira, enformam a poesia ultra-romântica.
Os adeptos desta corrente literária – Mendes Leal, Tomás Ribeiro, Bulhão Pato, Soares de Passos, João de Lemos – acolhem-se à sombra tutelar de Feliciano de Castilho, habituando-se à crítica do elogio mútuo e repudiando outra crítica que os pusesse em causa.
Entretanto, começavam a chegar a Portugal todas as “novidades” decorrentes das novas teorias filosóficas e das profundas transformações sociais, científicas e tecnológicas vividas pelas sociedades do Centro da Europa. Estas “notícias” vão gerar um espírito de rebelião nalguns estudantes de Coimbra, a partir de 1860. Lutam contra o ensino ministrado na Universidade, manifestando nas suas ideias uma inconformidade em relação aos valores oficiais da sociedade de então. Dado o papel que desempenharam ao nível cultural e político, este conjunto de jovens estudantes de Coimbra ficaram na história do nosso país como a “Geração de 70”.

4. A “Geração de 70” e a Questão Coimbrã

Conceito de geração
Se tentarmos definir a palavra “geração” na história da cultura de um país, deparamos antes de mais com uma dificuldade de carácter prático: pertencem a uma geração todos os que nascem e vivem numa mesma época, dentro de um período breve (dez ou vinte anos), marcado por tendências comuns importantes, ou pertencem a ela apenas alguns desses indivíduos que se destacam do conjunto e a representam verdadeiramente?
Parece justo aplicar o termo à criação comum de ideias e de obras num determinado período decisivo da cultura e da literatura de um país. Todavia, essa criação far-se-á (e permanecerá para o futuro) inevitavelmente a partir de um número restrito de escritores e de pensadores que serão os verdadeiros iniciadores de uma geração. Por isso é que o sentido meramente cronológico é, afinal, secundário, sendo mais importante o puro sentido da criação das ideias em si.

A “Geração de 70”
Pode dizer-se que à chamada Geração de 70 pertencem aqueles escritores da segunda metade do século XIX que a “geraram” no plano das ideias, estéticas ou outras, e não aqueles que a ela aderiram, prolongando-a historicamente. São eles: Antero de Quental (1842-1891), Eça de Queirós (1845-1900), Oliveira Martins (1845-1894) e Ramalho Ortigão (1836-1915). Secundariamente, a ela pertencerão: Teófilo Braga, Guerra Junqueiro, Jaime Batalha Reis, Guilherme de Azevedo, Gomes Leal, Alberto Sampaio ou ainda Adolfo Coelho e Augusto Soromenho.

Periodização da “Geração de 70”
Ao nível histórico, a Geração de 70 situa-se no período que vai, grosso modo, até à proclamação da República, em 1910. A Regeneração separa o período de ideias revolucionárias do primeiro romantismo de Garrett e de Herculano, um período em que predomina a instabilidade política, social e económica, da época que se caracterizou essencialmente por uma estabilidade ligada ao pré-industrialismo de António Maria Fontes Pereira de Melo.

A reacção da “Geração de 70” à literatura
Ao nível das teorias literárias, a Geração de 70 corresponde a um “terceiro romantismo” (segundo o ensaísta António Sérgio), tendo-se formado no meio académico de Coimbra e reagido contra o “segundo romantismo”, ou seja, o ultra-romantismo académico de António Feliciano de Castilho (Questão Coimbrã, que opõe Antero e Castilho, em 1865), retomando de certo modo, ao nível das ideias políticas e culturais, o “primeiro romantismo” de Herculano e Garrett. No entanto, os elementos de influência ideológica são outros: Hegel, Marx, Proudhon, Comte, Michelet. Também os elementos estéticos de base implicam outras influências, sobretudo as do romantismo alemão de Heine, do romantismo visionário de Victor Hugo na sua última fase, do realismo e do naturalismo de Zola e de Flaubert e do pré-simbolismo de Baudelaire.
A capacidade crítica da Geração de 70 atinge o seu ponto culminante com a realização das chamadas Conferências do Casino, de Maio a Junho de 1871. Nelas, Antero expõe as suas ideias de socialismo utópico, Eça critica o romantismo decadente e defende as teorias de Taine (para o qual a arte está sobretudo dependente de factores rácicos, climáticos e sociais) e o realismo à Zola e à Flaubert na arte e no romance. Com o mesmo objectivo doutrinário e crítico, mas ao nível da crónica jornalística de tipo panfletário, surgem, também em 1871, As Farpas, uma publicação mensal redigida inicialmente por Ramalho e por Eça.
Por outro lado, ainda como geração eminentemente crítica, a Geração de 70 ataca a monarquia decadente, preparando a revolução republicana de 1910. Note-se, no entanto, para lá do espírito crítico geral, a diferença entre socialismo e republicanismo, verificada sobretudo a partir da polémica entre Antero e Teófilo Braga a propósito da Teoria da História da Literatura Portuguesa, publicada por Teófilo em 1872.

A desistência dos intervenientes da “Geração de 70”
Todavia, apesar de todo o seu espírito crítico, a Geração de 70, na sua fase final, desiste de uma acção doutrinária e de uma intervenção histórica concreta, imediata, transformando-se no Grupo dos Vencidos da Vida. Eça, que fala dos Vencidos da Vida ironicamente como sendo apenas um “grupo jantante”, que todas as semanas se reúne no Hotel Bragança “para destapar a terrina da sopa e trocar algumas considerações amargas sobre o Colares”, acrescenta, num tom céptico e mesmo derrotista: “para um homem, o ser vencido ou derrotado na vida depende não da realidade aparente a que chegou – mas do ideal íntimo a que aspirava”. Dois anos depois destas observações de Eça, Antero suicida-se, em 1891, marcando tragicamente toda a Geração de 70. Assim, se o espírito crítico predomina nesta geração, ele é mais ainda de autocrítica exigente e de cepticismo amargo do que de crítica triunfante e espectacular.

“O Realismo em Portugal”, in Boletim Informativo da Fund. C. Gulbenkian, nº2, série V (1979)


Síntese do ideário da “Geração de 70”

• Inconformismo com a estagnação cultural a que se chegara.
• Rejeição do estilo melodramático e rebuscado do “ultra-romantismo”.
• Adesão aos “ventos” da industrialização e da modernidade europeia.
• Paixão pela luta contra os grandes problemas sociais.
• Reflexão sobre os conflitos políticos.
• Questionação da cultura portuguesa desde a sua origem.
• Preparação da revolução ideológica e política da sociedade portuguesa.
• Revalorização das tradições culturais.
• Recriação da língua e da linguagem para permitir a tradução de um mundo novo.

Do Romantismo ao Realismo/ Naturalismo

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O Sebastianismo e a mensagem de "Frei Luís de Sousa"

O Sebastianismo é a crença que D. Sebastião não morrera em Alcácer-Quibir e voltaria em breve, para reclamar o trono que lhe pertencia.
Na obra Frei Luís de Sousa é feita uma critica, através do Sebastianismo, ao Portugal da época, isto é, através das personagens Telmo e Maria, que representam o Portugal Velho, aquele que Almeida Garrett pretendia criticar, como um país que acredita profundamente que aquilo que deseja um dia vai acontecer, mas simultaneamente fica à espera que aconteça sem implicação da sua responsabilidade. Não faz nada para mudar qualquer situação em que se possa encontrar, limitando-se a esperar que alguém faça por "ele".Por outro lado, através da personagem Manuel de Sousa Coutinho, Garrett faz alusão ao Portugal Novo, aquele que o escritor defende e deseja... um Portugal futurista, moderno e prometedor, que perante situações desagradáveis e consideradas injustas, luta para as mudar, que ao contrário do Portugal Velho, não coloca a mudança na mão de outrem... fá-lo de forma convicta, desafiando o que quer que seja.
Débora Pequito, 11ºI

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A Figura Frei Luís de Sousa

Frei Luís de Sousa – Manuel de Sousa Coutinho
Manuel de Sousa Coutinho, filho de Lopo de Sousa Coutinho e de D. Maria de Noronha, nasceu em Santarém no ano de 1555 e faleceu em Lisboa no ano de 1632.
Cavaleiro da ordem militar de Malta, entre os anos 1576-1577, quando viajava pelas índias ocidentais e orientais foi aprisionado por piratas e esteve cativo em Argel.
Esteve ao serviço do rei de Espanha Filipe II, que o recompensou com uma boa quantia, e foi promovido a fidalgo escudeiro.
Por volta de 1583 casa com D. Madalena de Vilhena, viúva de D. João de Portugal desaparecido na batalha de Alcácer-Quibir. Do casamento de D. Madalena com D. João nasceram três filhos: D. Luís de Portugal (morto em Ceuta), D. Joana de Portugal e D. Maria de Vilhena, os quais foram educados pelo novo casal que, por herança da mãe de D. Madalena, eram detentores de uma grande fortuna. A partir de 1590 a família vai viver para Almada, onde Manuel de Sousa Coutinho passa a desempenhar diversos cargos. Em 1599 é nomeado Capitão-Mor de Almada, com o posto de coronel.
No ano de 1600, Lisboa encontrava-se assolada pela peste e os governadores do reino quiseram instalar-se em Almada, em sua casa, devido a conflitos existentes entre ambos, mas D. Manuel sentindo-se ofendido e para impedir tal violência, lançou-lhe fogo. Parte para Espanha, evitando assim dissabores e passados um ou dois anos volta a Portugal devido às saudades que já tinha de sua mulher e de sua filha.
Em 1613 falece-lhes sua única filha D. Ana de Noronha. Decidem ambos professar, D. Manuel no convento de S. Domingos de Benfica e D. Madalena no convento do Sacramento. Mudam ambos de nome. D. Manuel adopta o nome de Frei Luís de Sousa e D. Madalena o nome de Sóror Madalena das Chagas.
Produz diversas obras e morre em 1632.
Como personalidade histórica e criador literário, Manuel de Sousa Coutinho era um homem corajoso, nobre, defensor dos seus ideais, patriota, nacionalista, audaz, determinado, marcando assim a época em que viveu (séc. XVI).
Algumas das obras que Frei Luís de Sousa produziu:
. Navigatio antartica ad doctorem franciscum guidum, civem panamensem
. Vida de don frei Bartolomeu dos mártires (1619)
. Crónica de S. Domingos:
. Primeira parte da história de S. Domingos (1623)
. Segunda parte da história de S. Domingos (1626)
. Terceira parte da história de S. Domingos (1678-terminada por Frei Luís de Soutomayor)
. Anais de el-rei D. João III (1844)
. Vida de Sóror Margarida do Sacramento
. Considerações das lágrimas que a Virgem Nossa Senhora derramou na Sagrada Paixão (1643)
. Vida do beato Henrique Suso da ordem dos pregadores traduzida de latim em português (1642)
Adaptação Literária
Como figura literária de Manuel de Sousa Coutinho na obra de Almeida Garrett “Frei Luís de Sousa” encontra-se muito próxima da sua vida, apenas sabemos é que existem certas “versões” na obra que foram baseadas em lendas ou mitos. Exemplo:
Não se conhecem as verdadeiras razões que levaram D. Manuel e D. Madalena a seguir a vida religiosa e entre várias versões e opiniões diferentes, e sobre a desconhecida doença ou causa que levou à morte de sua filha, Almeida Garrett produziu a obra literária “Frei Luís de Sousa”, onde as razões apresentadas para a morte de sua filha (Maria na obra), é ela sofrer de tuberculose, eles que tinham recebido a nova inesperada de que D. João de Portugal desaparecido, se encontrava ainda vivo na Terra Santa. Com isto a vida deles tornara-se impossível e decidiram seguir a vida religiosa, professando ambos.
Fonte: http://www.notapositiva.com/trab_estudantes/trab_estudantes/portugues/11freiluisdesousa.htm Autores: Ana Raquel Antunes e Graça
Recolha e daptação da informação feitas pela Andreia Verdugo do 11ºF

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

"Frei Luís de Sousa"

Obra-prima do teatro português (a partir da representação de uma “comédia de feira” na Póvoa do Varzim, da leitura de uma memória do bispo de Viseu e do parecer sobre o Cativo de Fez).

No Frei Luís de Sousa, tudo nos é dado pela expressão, em que a máxima simplicidade se alia à máxima intensidade dramática. O diálogo, intermitente, cortado de reticências expressivas mas cheio de naturalidade, vai-nos revelando a pouco e pouco a natureza das personagens, os terrores e os anseios, a serenidade e o arrebatamento - tudo quanto os factos vêm fatalmente confirmar, criando, por vezes, novos e irrequietos estados de alma. Assim, sem solução de continuidade no decurso da acção, se vão desenhando e ganhando vulto as personagens fundamentais: Madalena, a mulher arrebatada, feita de lágrimas e de sentimentos, de superstição e de remorso, que só nos braços do marido encontra lenitivo para os angustiosos receios que nem o amor da filha pode vencer; Manuel de Sousa, o cavaleiro sem mácula, o homem equilibrado e decidido, de nobilíssimo carácter, consciente da morte de D. João de Portugal, é o único que opõe à dor a frieza de uma razão esclarecida; Maria, a adolescente precoce, que lê nos olhos e nas estrelas, a vítima inocente predestinada a expiar as faltas dos pais, de cujo temperamento é a resultante fogosa e doente. Figuras ao mesmo tempo ideais e a escorrer humanidade, constituem a galeria, completada pelo Romeiro, o homem que já não tem mais onde armazenar a dor e a deixa extravasar em vingança inútil e injusta, e pelo velho Telmo Pais, que de simples comparsa se transforma em personagem viva ante o terrível dilema da opção entre o que foi o seu menino e senhor e aquele que é agora o seu anjo do céu.

A TRAGÉDIA CLÁSSICA

A tragédia clássica da Antiguidade centra o nódulo da acção num conflito que leva as personagens a interrogarem-se sobre o sentido da existência e o destino do homem, sobre a validade dos decretos promulgados pelas autoridades estabelecidas e os mandados dos deuses. A todo este sistema de formas, que comprime e pesa sobre a liberdade individual, o cidadão, o homem opõe o seu vivo protesto e lança um desafio (hybris) aos deuses e à ordem constituída.

À hybris responde a vingança, a punição, o ressentimento, uma espécie de ciúme ferido pela corajosa atitude assumida pelo homem, – a nemesis. O coro actua como um travão ao ímpeto libertário do indivíduo, aconselhando a moderação, a serena contenção, e traduz as ideias e sentimentos da média humana. Os acontecimentos desenrolam-se segundo os actos das personagens e os logros do destino, da necessidade do fatum (ananké); encadeiam-se uns nos outros, e, por vezes, precipitam a acção no seu curso através das peripécias que acabam por voltar o rumo do drama em sentido inesperado (catástrofe). Esta mudança brusca é muitas vezes levada a cabo por um reconhecimento (agnórise) de laços de parentesco até então insuspeitados.

A importância das personagens dentro do conflito dramático está também devidamente hierarquizada. Segundo o papel maior ou menor que desempenham na acção, ao protagonista seguem-se os deuteragonistas e tutagonistas, personagens respectivamente de segunda e terceira categoria. O coro encontra-se no fundo desta classificação, se se adoptar o critério de associá-lo com o desenvolvimento da acção, da qual pode ser legitimamente excluído, visto que a sua intervenção se reduz a um mero comentário sobre os acontecimentos e atitudes das personagens, em especial do protagonista. O andamento da acção obedece ainda a uma intensidade determinada, que lhe confere a qualidade dramática que a caracteriza. De início os acontecimentos desdobram-se perante o espectador numa naturalidade aparente, que logo começa de se carregar de conteúdo emocional, e levantam-se no seu espírito a suspeita de que algo horrível se prepara, uma tensão e uma curiosidade da atenção, uma expectativa, que o levam a tomar partido perante o que se passa na cena e a participar das apreensões, inquietudes e sentimentos das personagens. A esta primeira fase ou estado da acção dá-se o nome de epístase. Tem conhecido uma aura gloriosa em todo o teatro europeu e agora ganhou novos foros de popularidade na arte cinematográfica, onde aparece, em linguagem técnica, sob o nome do termo inglês suspense.

Chega-se então ao ponto culminante da acção. O conflito do protagonista com os deuses ou as autoridades da cidade, ou com ambos, consequência do seu descomedimento libertário e individualista, adensa-se, semeia-se de consequências patéticas, avoluma-se num crescendo inquietante (clímax), até se resolver numa reviravolta brusca e brutal dos acontecimentos – a catástase. Esta fase resume a essência do trágico e condensa as consequências finais da acção do protagonista e das personagens que com ele estão ligadas.

Aristóteles analisou ainda a tragédia dum ponto de vista psico-social. Para ele, o elo que se estabelece entre o espectador e a acção dramática, essa participação interessada no devir dos acontecimentos, causadora de estados de endopatia (dentro de), tinha uma função de catharsis, que, segundo a interpretação crítica mais corrente, se destinava a purificar o espectador das suas tendências imorais ou anti-sociais, uma espécie de válvula de escape de forças psíquicas e cargas emocionais, que não encontram conduto próprio para se liberarem. Situe-se, assim, a tragédia num plano de utilidade social idêntico ao do psicanalista na sociedade moderna, que até importou o termo para o seu vocabulário especializado. O agenciamento da acção dramática da tragédia visava a exibição das consequências terríveis (pathos) do descomedimento humano, de modo a sugerir no espectador o temor religioso ou a sua simpatia, dependendo assim, naturalmente, das interacções e da concepção filosófica do tragediógrafo.

Os três grandes mestres da tragédia grega foram Ésquilo, Sófocles e Eurípedes.

In Dicionário da Literatura, J.P. Coelho

TRAGÉDIA >TRAGOS – bode que se sacrificava nas cerimónias religiosas dedicadas a Dioniso, deus do vinho.

ELEMENTOS DA TRAGÉDIA

HYBRIS – desafio aos deuses e à ordem constituída;

NEMESIS – vingança, punição, espécie de ciúme ferido pela atitude corajosa do Homem;

FATUM (ANANKÉ) – o destino

PERIPÉCIA – os acontecimentos encadeiam-se uns nos outros;

AGNÓRISE – reconhecimento de laços de parentesco;

CATÁSTROFE – alteração inesperada do rumo do drama.

FASES DA ACÇÃO

EPÍSTASE – os acontecimentos desdobram-se numa neutralidade aparente, que logo começa de se carregar de conteúdo emocional e surge a suspeita de que algo de horrível se prepara;

CLÍMAX – o conflito adensa-se, avoluma-se;

CATÁSTASE – reviravolta brutal e brusca dos acontecimentos.

FUNÇÕES DA TRAGÉDIA

CATHARSIS – purificar o espectador das tendências imorais ou anti-sociais;

PATHOS – mostrar as consequências terríveis tendo em vista o temor religioso ou a sua simpatia.

FREI LUÍS DE SOUSA - DRAMA? TRAGÉDIA?

Etimologicamente, drama pode aplicar-se a qualquer obra de teatro. Logo, dramaturgo é todo e qualquer autor teatral. Denominamos de género dramático o género literário que abrange as produções concebidas para se representarem, subordinadas a determinados preceitos técnicos e espectaculares.

Ainda que o próprio Garrett classifique a sua obra genericamente de drama, a verdade é que ele próprio reconhece que – a obra magnífica é uma tragédia.

Como drama apresentaria esta obra – um retalho da vida normal de gente adulta, temperada de lágrimas e risos que vão assinalando a vida realmente vivida. Se fosse drama romântico deveria ter (e não tem) contraste entre o grotesco e o sublime, intimamente unidos na natureza humana, segundo Victor Hugo.

No entanto, quis Garrett que a sua obra se afastasse da forma tradicional do modelo da tragédia clássica: não foi escrita em verso, está dividida em 3 actos, não aparece o coro como elemento básico, não foram rigorosamente respeitadas nem a unidade de tempo (a acção ultrapassa as 24 horas), nem a unidade de espaço (a acção não decorre rigorosamente no mesmo local).

Mas, ao gosto da tragédia clássica, temos a nível da estrutura:

n a acção decorre toda em Almada, sendo a casa de D. João vizinha do convento de S. Domingos;

n no intervalo de uma semana, do 1º para o 2º acto, nada acontece de fundamental para o desenvolvimento lógico da acção;

n o coro da tragédia visto na figura de Telmo Pais, mero comentador ou informador nos dois primeiros actos e ainda na recitação litúrgica do ofício dos mortos, no final do III acto.

Na concepção a obra é fundamentalmente uma tragédia – a vida de uma família num período em que a desgraça se abate sobre ela como fatalidade a que são alheias as faltas e as responsabilidades humanas; é o passado que vem devorar os vivos, sem que de tal alguém possa ser culpado:

· Manuel de Sousa alia às virtudes de um português antigo, de antes quebrar que torcer, as qualidades de um chefe de família exemplar;

· D. Madalena é a esposa ideal e mãe extremosa;

· Maria, filha de ambos, um verdadeiro anjo de graça e vivacidade;

· Telmo Pais não pode ser acusado de se deixar vencer pela sua doçura cativante, fundindo em um sentimento único, a dedicação adolescente que lhe aquece a velhice;

mas

· o Romeiro traz consigo a desgraça, como mensageiro do Destino; e, para D. Madalena, os remorsos e temores das primeiras cenas vão-se adensando em aflição que irrompe em tempestade no final do Acto III; tornando inevitável a agonia e consumação do final da obra, a que não falta a vítima inocente, à decisão daquele destino implacável cuja voz o autor veladamente ia deixando ouvir nas alusões às mudanças súbitas do tempo ou à situação dos condes de Vimioso.

Do exposto se percebe porque o Frei Luís de Sousa, embora rotulado pelo seu autor de drama “pela índole há-de ficar pertencendo sempre ao antigo género trágico”. Não está escrito em verso porque “repugnava-me pôr na boca de Frei Luís de Sousa outro ritmo que não fosse o da elegante prosa portuguesa que ele, mais do que ninguém, deduziu com tanta harmonia e suavidade”.

No final considera que a sua peça aponta para a missão nacionalista do teatro, critica o dramalhão estereotipado, realçando a simplicidade dramática e a finalidade didáctica do teatro.

Se pelo conteúdo psicológico e pelo assunto, que é nacional, se considera o Frei Luís de Sousa uma obra romântica, muitos aspectos o aproximam do figurino da tragédia clássica.

É clássico:

· pela arte da solenidade clássica;

· pelos sentimentos dos dois esposos, angústia, incerteza, remorso, amor, ansiedade;

· pelo ambiente de tragédia, felicidade perturbada pelo remorso, desenlace trágico, precipitado, poucas personagens e (com excepção de Frei Jorge e de Manuel de Sousa) entregues aos seus destinos, mas psicologicamente definidas;

· pelo sugestivo do cerimonial católico;

· pela obediência, em parte, à lei das três unidades que só falha por causa do incêndio. Este surge para adensar o ambiente trágico, quer na violência de sentimentos que faz viver, quer na forçada mudança de residência; da primeira, onde madalena se encontrava feliz, para o ambiente austero, sombrio e pesado da antiga residência de D. João de Portugal, onde se desenrola o Acto II com a terrível constatação da verdade terrível – a sobrevivência do primeiro marido. Espaço e tempo actuam, pois, como forças que servem ao desenrolar da acção consequente;

· pela penetrante intuição psicológica da experiência pessoal do autor - o “eu” e as suas contradições;

· pelo fatalismo - todos estão sob o domínio do destino, contra o qual nada podem. Ver a tentativa de Madalena para salvar o retrato do marido numa curiosa adivinhação do que poderia significar a sua destruição. Observe-se, ainda, D. Madalena e o fatalismo (Acto III) ligado ao dia de Sexta-feira – o dia em que o marido e a filha a deixaram entregue ao seu destino – era um dia cheio de ligações com a sua vida. Por isso o teme. Em Manuel de Sousa (porta-voz de Garrett) não se sente a mesma ressonância dramática quando diz: ”É hoje sexta-feira... É que eu precisava de ir hoje a Lisboa... hoje não pode ser” (Acto III - cena V);

· pela acção, que é sintética. Quem a polariza é D. Madalena, com o consequente sentido de vazio, o qual é, talvez, ainda mais doloroso no Romeiro que agira com frieza e só conseguiu destruir um lar;

· pelas personagens, que são poucas, nobres e actuais (não se observa no drama romântico);

· pelo desafio (hybris) de Manuel de Sousa, incendiando o palácio e, já antes, com o casamento de D. Madalena;

· pelo pathos - estado de angústia permanente de D. madalena, a protagonista;

· pela morte de D. Maria, em cena, motivada pelo seu destino (a ananké) pecaminoso: “Eu não sei nada, só sei que não sou aquilo que deveria ser”. Note-se a natureza melodramática dessa cena e daquela em que D. João de Portugal se ilude pensando que se lhe referem as palavras ansiosas de D. Madalena: “Esposo, esposo, abri-me, por quem sois...” (Acto III, cena VI). P problema de D. Maria é visto à luz do séc. XIX e subjectivamente por Garrett. No séc. XVII não sofreria o mesmo drama psíquico, porque receberia o bálsamo consolador da religião que professava. São situações destas que aumentam o aspecto espectacular que a peça assume, principalmente no Acto III;

· a tragédia grega preceituava a morte fora de cena pela compaixão que movia;

· pelo clímax - a tragédia adensa-se sucessivamente desde que progridem os pressentimentos - e culmina com a peripécia (o reconhecimento - agnórise: “ninguém”);

· por momentos há a proximidade do prólogo clássico - na fala de Telmo quando apresenta Manuel de Sousa, e na fala deste à filha, referindo-se a D. João de Portugal. Por isso, em qualquer das duas cenas correspondentes (e depois na cena I do Acto III) predominam as falas mais extensas e as cenas são mais longas, ganhando nelas a peça interesse psicológico. As cenas seguintes são mais curtas, e favorecem a aproximação do fecho com toda a grandiosidade de que se reveste nos três actos: o incêndio, a revelação do Romeiro – Ninguém – e a morte de Maria. O diálogo tem falas mais curtas, é mais rápido e sempre fortemente sugestivo: “hoje... 6ª feira...! – Oh! querida mulher minha (a transposição do possessivo)... - A mim... – Terá... – Sim, mas... Homem, acabai!... Ninguém.”;

· pela sobrevivência do coro na figura de Telmo (Actos I e II) e nos salmos cantados no Acto III;

· há uma condensação de tempo, de acordo com as leis da tragédia (só os desfechos);

· não há mistura de cómico e do trágico.

Aspectos dramáticos/românticos

· A feição nacionalista, com tradição em António Ferreira;

· a acção desenrola-se em 3 actos e a sua natureza histórica é romântica;

· é escrita em prosa;

· a linguagem de Garrett nos momentos de maior choque psicológico encurta as frases e insiste nas formas reticentes, exclamativas, interrogativas e nas repetições;

linguagem coloquial, adaptada às situações que se vivem e às personagens envolvidas.

“FREI LUÍS DE SOUSA” (1843)

1. Uma atitude romântica perante a história

Relação entre a problemática política e os problemas individuais:

· papel determinante da batalha de Alcácer Quibir sobre o futuro das personagens (2º casamento de D. Madalena);

· implicações da decisão tomada pelos governadores castelhanos (regresso da família ao palácio de D. João de Portugal);

ausência de Manuel de Sousa no momento do regresso do Romeiro, consequência da “benevolência” dos governadores.

Tratamento literário de uma época da História de Portugal:

· acção situada no séc. XVII;

· personagens correspondentes a figuras históricas;

trabalho de reconstituição histórica: cenários, vestuário, linguagem, referências culturais (repercussão da Reforma) e factológicas (peste em Lisboa).

Valorização da questão da identidade nacional:

· o ideal da independência (defendido por Manuel de Sousa);

· a tradição cultural portuguesa (referências a Bernardim Ribeiro e Camões);

· povo encarado como entidade abstracta, mitificado e portador de mitos (D. Sebastião).

2. O gosto pela realidade quotidiana

Locais da acção: a casa, um espaço concreto – situação. Arquitectura, mobiliário e decoração.

Suporte da relação entre as personagens – a família:

· marido - mulher

· mãe - filha; pai – filha

· irmãos, cunhados

· tio - sobrinha

· núcleo familiar central integra os criados (Telmo, Miranda) com funções diferentes do teatro clássico.

Acções e gestos do quotidiano, presenciados ou relatados:

· ler, escrever, estudar;

· passear, viajar, visitar;

· dormir, etc..

Preocupações que revelam a “vida privada” das personagens:

· a doença;

· os acidentes de viagem;

· as normas de convivência social (visitas, agradecimentos).

Aproximação do nível de língua corrente e familiar em certas circunstâncias (falas de Maria, outras personagens dirigindo-se a Maria).

3. Estatuto romântico das personagens

Confronto permanente entre o indivíduo e a sociedade - felicidade individual contrariada pelas normas colectivas (código moral estabelecido, regime político totalitário):

· incêndio do palácio ½

· tomada de hábito ½ os grandes amores impossíveis

· morte de Maria ½

Conduta individual pautada por valores codificados, próprios duma classe social - a aristocracia: honra, coragem, fidelidade, memória dos antepassados, abnegação.

Referência constante ao cristianismo, à religião e ao culto.

Importância da problemática da morte: temida, desejada, assumida.

Tendência para os comportamentos violentos, negativos e positivos (as grandes decisões, as grandes acções, as grandes hesitações, os grandes temores, os grandes arrependimentos).

4. A acção comandada pelo destino

Linguagem que remete para lá da cena:

· subentendidos;

· frases incompletas, reticências;

· ambiguidades de sentido, equívocos.

Uma personagem que remete ora para o passado, ora para o futuro: Telmo (atitude que o aproxima do coro da tragédia clássica.

Uma personagem presente, sobretudo quando ausente: D. João de Portugal (conversas, retrato, figura do Romeiro).

Conjunto de coincidências que se revelam fatais:

· locais em que se passam acções - palácio de D. João de Portugal;

· dias em que se passam acções - regresso do Romeiro;

· circunstâncias em que se passam acções - ausência de Manuel de Sousa.

Preparação do desfecho a partir da primeira cena:

· preparação do ambiente (estado de espírito de Madalena, Telmo; Maria);

· preparação das circunstâncias (decisão dos governadores, decisão de Manuel de Sousa, saída de Manuel de Sousa);

· preparação de solução (doença de Maria, referência a Inês de Castro, exemplo dos Condes de Vimioso).

Anulação sistemática das hipóteses de alteração da situação:

· cedência de D. Madalena - ida para a casa de D. João de Portugal;

· cedência de D. Madalena - ida a Lisboa de Manuel de Sousa e Maria;

· não cumprimento da proposta do Romeiro a Telmo;

· não cedência de Manuel de Sousa A madalena - decisão irrevogável de tomar o hábito.

5. Uma peça de teatro

Conjunto de 3 actos constituídos por cenas (12, 15 e 12, respectivamente), definidas pela entrada e saída de personagens cujo número em cena é muito variável: do monólogo (Madalena, Telmo, Jorge) ás cenas de conjunto (últimas cenas do 1º e 3º actos).

Semelhança de organização interna dos três actos:

· Acto I – ponto da situação

· Acto II – preparação da acção

· Acto III – acção.

Simetria de construção dos dois primeiros actos:

· função da presença de Telmo

· função das entradas de Jorge e Manuel de Sousa

· cena final espectacular

Alternância de cenas com funções diferentes:

· fornecer informações sobre o passado e o presente;

· caracterizar personagens e ambientes;

· preparar os saltos na acção;

· fazer a transição para a cena seguinte (assunto, tempo, personagem);

· mostrar os acontecimentos (fogo, chegada do Romeiro, cerimónia religiosa e morte).