domingo, 10 de janeiro de 2010

Condições para o surgimento do Romantismo em Portugal

A. Culturais
Surgimento a partir de 1836 como escola, com as suas publicações e com o seu público;
As traduções da novelística estrangeira: Voltaire, Walter Scott, Alexandre Dumas (filho), preparam o público português para acolher o romance e as novelas nacionais, que vão ser influenciadas por todos eles;
O romantismo português não se pode dissociar da Revolução Liberal de 1820, da derrota dos absolutistas e das reformas institucionais, e, por isso, reveste-se de particularidades únicas;
Tem como chefes patriotas Garrett e Herculano, liberais de alma e coração, dedicados à reconstrução nacional, à reconstrução da grande Pátria através da Literatura, combatendo a decadência e a humilhação que o País vivia na altura. Chora-se o passado grandioso e deposita-se nos patriotas liberais esperanças de liberdade e de renascimento;
Herculano aviva a consciência nacional, revive a literatura oral e a novela renasce modernizada, com o contributo de Garrett e Camilo;
Restauração do Teatro;
Criação de uma escola de historiadores preocupados com o rigor científico;
Incentiva-se o jornalismo e coloquializa-se a linguagem;
A literatura é avassalada por uma linguagem corrente, mais acessível aos estratos sociais populares que estão na origem de todas as modificações políticas e sociais, históricas e culturais do séc. XIX.
B. Políticas
Implantação do Regime Liberal;
Abertura do país ao resto da Europa;
Abolição da censura;
Desenvolvimento dos meios de comunicação principalmente dos transportes ferroviários que aproximam Portugal dos grandes centros europeus.
C. Sociais
Importação de modas e gostos estrangeiros (Inglaterra, França e Alemanha);
Ruína dos fabricantes nacionais;
Aumento da nova aristocracia;
Modificações sociais a nível das classes populares.
Características Gerais do Romantismo
Desenvolvimento de uma literatura confessional, que se presta à exibição do EU e do indivíduo como único e original em sentimentos e imaginação;
Desenvolvimento e defesa da teoria de Rousseau, afirmado o indivíduo como naturalmente bom e posteriormente corrompido pela sociedade;
Glorificam-se e exaltam-se os tipos sociais marginais: o pirata, o bandido, o fora-de-lei. Perante a impotência de alcançar aquilo que deseja, nasce no romântico uma revolta metafísica e social que vai levar à sua identificação com figuras míticas e bíblicas como Prometeu, os Titãs, Satã, etc…;
O EU é tudo, aspira ao Absoluto e procura transcender a sua condição humana (influência do idealismo alemão);
O Homem é descrito na sua dimensão individual, egocêntrica, sem preocupações morais;
O EU romântico sofre de uma nostalgia profunda (sehnsucht) e busca algo de distante no tempo e no espaço, que se concretiza pelo retomar no tempo da Idade Média e pela procura de espaços exóticos, orientais, mergulhados no fantástico e no sonho;
Valoriza-se o nacionalismo estético, a cultura regional, a tradição;
Surge o pessimismo, o fatalismo popular, a metafísica do pecado, da penitência e do resgate (porque não se alcança o Absoluto);
Os sentimentos são levados ao exagero: fala-se de amor, de ciúme, de vingança, de desespero e de morte;
A mulher é personificação da fragilidade, da pureza, do espírito de sacrifício e de tão idealizada acaba por se tornar um símbolo;
A mulher pode estar na origem de tudo o que existe de maldito no herói romântico;
A "mulher anjo" opõe-se à "mulher diabo".
Classicismo
1. Predomínio da Razão e da Inteligência
2. A objectividade, o impessoal
3. Culto da antiguidade greco-latina (mitologias, personagens, lendas)
4. Equilíbrio, disciplina, clareza, ordenação
5. Representação do homem equilibrado, saudável, moralista, disciplinado e optimista
6. Gosto pela vida em sociedade
7. As realidades certas e a ausência de preocupações espirituais
8. A mulher como deusa, reflexo do amor divino (platonismo)
9. Amor racional e intelectualizado
10. Natureza luminosa, colorida, alegre, suave (Primavera e Verão)
11. Preferência pelo diurno (luz solar)
12. Paisagem convencional, aprazível, bucólica e equilibrada ("locus amoenus")
13. Preferência pelo belo aristocrático quase inatingível.
14. Versificação rígida e unidade estrófica
15. Linguagem seleccionada, pouco acessíve
16. A pureza dos géneros: a separação do sublime (tragédia) e do grotesco (comédia).
Romantismo
1. Predomínio do sentimento (coração, sensibilidade) e da Imaginação
2. A subjectividade, o pessoal
3. Culto da Idade Média (lendas e tradições) e intervenção na realidade contemporânea
4. Arrebatamento e exaltação
5. Representação do homem carregado de traumas, indisciplinado, instável e egocentrista, sem grandes preocupações morais e pessimista
6. Herói individualista e solitário revoltado contra a sociedade
7. A incerteza, a insatisfação e a angústia
8. A mulher anjo (um ser quase divino) e a mulher demónio (fatal, sedutora, que destrói todos aqueles que encanta)
9. Amor sentimental e sensorial
10.Natureza sombria, melancólica (Outono e Inverno)
11. Preferência pelo crepuscular e pelo nocturno (penumbra, sombras, luar), que propiciam o sonho e a meditação
12. Paisagem natural, livre, rude, selvática, agreste ("locus horrendus"); a paisagem é um estado de alma
13. Preferência pelo belo horrível, quotidiano e vulgar
14. Versificação livre e variedade estrófica
15. Linguagem acessível, por vezes oralizante
16. O hibridismo dos géneros: valorização de formas literárias novas (o drama romântico e o romance); a aliança do sublime e do grotesco.

Em Portugal o processo de instauração do romantismo foi lento e incerto. Enquanto o romantismo de Delacroix avançava já para um projecto renascentista e o realismo tomava forma no horizonte parisiense, o romantismo português procurava ainda afirmar-se.
A implantação do romantismo em Portugal ocorre num contexto sociopolítico. São os anos posteriores às invasões francesas, que tinham originado o refúgio da corte portuguesa no Brasil e é também o tempo em que o desejo de independência dessa colónia ganha força. Na metrópole multiplicam-se as lojas maçónicas e germinam os ideais liberais.
Travam-se as lutas civis entre miguelistas e liberais, e, por duas vezes, depois da Vilafrancada e da Abjuração da Carta, muitos partidários de D. Pedro tiveram de exilar-se em Inglaterra e França. Dois desses partidários eram os jovens escritores Almeida Garrett e Alexandre Herculano.
Segundo alguns autores, o romantismo afirmou-se entre nós como uma cultura de importação. Só compensou distâncias e atrasos pela via indirecta dos exílios a que se sujeitaram Garrett e Herculano. Foi longe da pátria que estes autores conceberam a ideia de criar uma literatura nova, de carácter nacional e popular.
Em 1825 Garrett publicou o poema Camões que passa a ser considerado o ponto de partida para a fixação da cronologia do romantismo português.
Garrett e Herculano entendiam a literatura como tarefa cívica, como meio de acção pedagógica ("A abolição dos conventos destruíra o sistema dos estudos; e se cumpria aos governos organizar a instrução pública, era obrigação dos escritores novos continuar a obra dos frades." Oliveira Martins)
Portugal era um país pequeno e decaído, saudoso da grandeza perdida. Esses patriotas, confiantes nas virtudes da liberdade, propunham-se contribuir para um renascimento pátrio.
O romantismo constitui uma tomada de consciência e uma conquista dum senso histórico e dum senso crítico novo aplicado aos fenómenos da cultura. Começa-se a relacionar o Homem com o meio a que pertence e a época de que é produto. ("O instável Carlos das viagens é o expoente de uma época de crise, um moderno que sofre de duplicidade amorosa e acaba por se emburguesar, passando de alma sensível a barão." Jacinto Prado Coelho)
Em Portugal, tal como na Europa, o romantismo manifestou-se também na pintura e na arquitectura. A evolução, na pintura, do neoclassicismo para o romantismo foi lenta e tormentosa, só tardiamente ganhou expressão entre nós. Não existiam mestres, o seu surgimento é o resultado do amor que os jovens artistas tinham à natureza. ("Deve ser no meio dos campos, em frente das maravilhas da vegetação e dos mais variados episódios da criação animada, que as ideias do pintor voam e se multiplicam." J. M. Andrade Ferreira)
Vários pintores se destacaram, mas Auguste Roquemont foi o primeiro a fixar na tela cenas de costumes populares. Tomás da Anunciação, João Cristino da Silva e Metrass são outros nomes importantes da pintura romântica. Este último, Metrass, traduz nos seus quadros uma nova situação sentimental, com um dramatismo ao mesmo tempo empolgante e mórbido. O melhor exemplo desse gosto é o célebre Só Deus, considerado por alguns a mais poderosa imagem do romantismo português.
A arquitectura do período romântico em Portugal surgiu, a par com a Europa, por via Inglesa. O monumento mais representativo do espírito romântico é o Palácio da Pena, em Sintra.
A serra de Sintra sempre empolgou as almas românticas, Garrett em 1925 escrevia:

1.Valorização do povo e da sua sabedoria antiquíssima, expressa no tesouro das suas tradições ou do seu folclore.
2. Forte acentuação do carácter original das culturas nacionais expressos nos valores literários e artísticos específicos, na sua história, nos seus mitos, no que, enfim, constitui a sua identidade.
3. Uma atitude intelectual de idealismo filosófico.
4. Uma tendência para o individualismo, isto é, para a expressão do intimismo e de uma visão do mundo sempre focalizada pelo “eu”, pelo predomínio do universo interior do artista. Temas como os da solidão, da noite, do amor e da morte foram naturalmente preferidos.
5. Um interesse exacerbado pelo indivíduo onde se concentram as linhas de força de uma humanidade que começa e acaba no protagonista do drama humano, que é o “herói” de uma epopeia sem fim, “comissário” de um Deus desconhecido ou “o eleito da transcendência” para modificar o destino.
6. Uma atitude crítica perante a razão absolutista, daí decorrendo a valorização psicológica do sentimento, da imaginação e da intuição.
7. Um desejo de fuga ao quotidiano, ao material e à realidade, levando naturalmente à busca do maravilhoso, pela pesquisa de lendas e mitos, e ao mistério do universo.
8. Uma noção de um além de coisas visíveis que leva ao carácter vago, secreto, nebuloso dos cenários românticos, mostrando ruínas, indícios, presenças inexplicáveis.
9. Um liberalismo radica, não violento, porque se dirige a libertação interior dos homens; liberdade individual, liberdade popular e liberdade nacional são as etapas para um dinamismo evolutivo.
10. Uma religiosidade muito livre que vai do cristianismo ao culto de qualquer outra religião desde que contribua para a realização secreta do ser humano.

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